Apesar de não serem as principais cargas movimentadas nos principais portos do país, as cargas de projeto ganham cada vez mais relevância. Setores como energia, infraestrutura de transportes e siderurgia estão entre os principais demandantes por logística especializada, que se torna um cartão de visita para instalações portuárias e empresas do ramo. O ano de 2023 foi considerado positivo para movimentação desse tipo de carga e há uma expectativa de incremento por conta de projetos de ferrovias e de ampliação da geração termelétrica, além da gradativa recuperação do setor de petróleo e gás. Projetos eólicos continuam no radar e já existem relatos de consultas preliminares para parques de geração offshore.
A Triunfo Logística considera que o setor de petróleo e gás continua a ser a principal segmento demandante, na medida em que outros setores, como de equipamentos para mineração e usinas siderúrgicas, ainda estão abaixo de outros anos. “Devido aos contratos que estamos performando para o setor de O&G, nossa movimentação de cargas de projeto foi muito boa (em 2023). Este tipo de carga é uma especialização do nosso terminal. A Triunfo sempre investe em equipamentos para efetuar manuseio principalmente de cargas pesadas”, celebra o diretor comercial da Triunfo Logística.
Mesmo sendo uma especialização do terminal, a participação dessas operações não chega a a atingir 15% do faturamento da Triunfo. Lima explica que o motivo é que a empresa possui em demanda alta em movimentação de granéis, carga geral/siderúrgica e base de apoio logístico, principalmente para a Petrobras (pré-sal) e para a Equinor (Bacalhau).
Há uma expectativa de que o setor de petróleo e gás continue a se recuperar e demande mais logística envolvendo cargas de projeto. “Entendo que ainda tem muito a melhorar, porém toda a movimentação efetuada ao longo deste ano foi dentro do prolongamento para atendimento aos nossos contratos junto aos setores de energia e de mineração” analisa Lima.
O diretor comercial destaca, entre as recentes operações de carga de projeto na Triunfo, o recebimento e movimentação de bobinas de tubos flexíveis de até 25 metros, torpedos T-120 e também âncoras de sucção. “Mandamos construir um equipamento na Itália (Jumbo), que importamos no final de outubro, para a movimentação dessas bobinas com um investimento altíssimo”, elenca Lima. O valor aportado, de acordo com a empresa, é de R$ 8,5 milhões.
A movimentação de cargas de projeto é mais uma das especialidades do Complexo do Pecém (CE), que movimentou mais de três milhões de toneladas somente desse segmento de carga em 2023. Dentre os principais materiais movimentados estão placas de aço, bobinas, pás eólicas e outros tipos de cargas como transformadores, aerogeradores completos e pedras de granito.
O Porto offshore conta com 10 berços, sendo dois deles dedicados a granéis sólidos, dois para granéis líquidos, dois para contêineres e quatro para cargas soltas em geral. “O Porto do Pecém oferece uma estrutura diferenciada, atuando com eficiência e preços competitivos. Isso faz com que a movimentação de cargas em geral, incluindo as de projeto, aumente ano após ano”, destaca o diretor comercial de Pecém, André Magalhães.
O Porto Chibatão (AM) se destaca pela movimentação intensa de cargas de projetos conduzida pela Tomiasi Logística de Projetos, uma empresa do grupo Chibatão especializada em operações com cargas complexas e pesadas. As principais transferências estão estão associadas a equipamentos industriais direcionados ao Polo Industrial de Manaus (PIM), impulsionando a capacidade e otimizando os processos produtivos. O complexo identifica uma demanda subsequente por peças e máquinas destinadas às usinas de energia da região, exigindo uma infraestrutura portuária adequada para a manipulação de componentes superdimensionados.
O grupo considera que o complexo é o mais bem preparado para movimentações de cargas especiais da região. “O setor de energia lidera a demanda por infraestrutura de transporte de projetos na região. Nos últimos dois anos, 60% das cargas de projetos que transitaram pelo terminal estavam relacionados ao setor de energia”, destaca a administração do Porto Chibatão. A empresa avalia que diversos segmentos têm demandado operações intensivas de movimentação de cargas de projeto em 2023. O grupo destaca desde maquinários industriais e maquinários para montagem de usina termoelétrica, até maquinários para usina de biocombustíveis, maquinários para subestação de energia e maquinários navais.
O Porto Chibatão e a Tomiasi Logística de Projetos participaram de operações notáveis nos últimos meses, como nos projetos Jaguatirica em Boa Vista, UTE Azulão em Silves, UTE São João da Baliza em Boa Vista, Subestação Energia com movimentação de bobinas de cabo elétrico, e a movimentação de sonda de perfuração. “São alguns dos destaques que ressaltam a versatilidade das divisões portuária e logística de projetos em lidar com uma ampla gama de cargas de projeto”, afirma o grupo.
Apesar da relevância, as operações com carga de projeto representam aproximadamente 8% da movimentação total do Porto Chibatão, evidenciando a diversificação das atividades portuárias. “Porto Chibatão e a Tomiasi continuam desempenhando um papel crucial na movimentação de cargas de projeto, com ênfase especial em de cargas pesadas, solidificando sua posição como referência de empresas completas e mais bem preparadas para movimentações de cargas especiais na região”, destaca o grupo.
O Complexo de Suape (PE) hoje movimenta basicamente carga de projeto para atender algumas indústrias locais e parques eólicos. A energia eólica e a indústria de aço são segmentos que têm demandado mais operações de movimentação de cargas de projeto em 2023. Nos últimos 12 meses, porém existe a perspectiva de movimentação para atender um parque eólico de um estado vizinho, ainda não definido.
“A médio prazo, aguardamos o desenvolvimento do setor eólico offshore para oferecer o porto como opção de infraestrutura logística”, projeta o diretor de gestão e desenvolvimento portuária de Suape, Nilson Monteiro. Ele explica que, em termos de toneladas, existe uma representatividade muito pequena, considerando que 70% da movimentação do porto é de granel líquido e que esse tipo de carga é movimentada em grandes volumes.
Quando o assunto é carga de projeto, o Porto do Itaqui (MA) atualmente movimenta principalmente equipamentos para os setores de energia, além de equipamentos para o setor ferroviário. O diretor de operações do Porto do Itaqui, Hibernon Marinho, explica que esse tipo de carga é relevante, apesar de proporcionalmente representar menos de 1% da movimentação total do porto graneleiro, que opera por ano em torno de 35 milhões de toneladas, principalmente granéis sólidos e líquidos. Ele destaca, um mais do que no ano passado.
Marinho explica que esse tipo de operação está associado a projetos de infraestrutura da região e depende muito do desenvolvimento econômico local. Entre os principais projetos, ele destaca a recepção pelo porto de equipamentos para expansão da geração termelétrica do Paranaíba, além dos trilhos para as obras da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico). Itaqui projeta um provável incremento com o desenvolvimento de projetos de energia eólica.
Projetos eólicos offshore, no entanto, ainda devem demorar um tempo para maturar porque dependem da conclusão do processo de regulamentação. Apesar disso, Marinho conta que Itaqui já foi procurado sobre eventuais logísticas para projetos deste tipo. O diretor comercial explica que o porto leva vantagem, principamente, em caso de projetos de parques eólicos entre Maranhão e Piauí. “Já fomos demandados por eólicas offshore. Dependerá da localização dos projetos” afirma Marinho.
O diretor comercial de Itaqui explica que normalmente, o porto é procurado seis meses antes para verificar a taxa de ocupação dos pátios e berços, além do planejamento como será a logística. Quando se aproxima a data da chegada do navio, é feita uma reunião operacional, para discutir a previsão de chegada, onde se discute também a armazenagem e o momento em que ela seguirá para o destino final.
O berço 102 é o preferencial para cargas de grandes dimensões em Itaqui. Marinho diz que o Nordeste possui outros portos de entrada, porém acredita que, na prática, não há competitividade para a recepção de cargas de projeto porque muitas vezes são equipamentos de grandes proporções, cujos responsáveis buscam o porto mais próximo do destino final.
O diretor destaca, entre os diferenciais de Itaqui, a conexão ferroviária, berços com 19 metros de profundidade e proximidade com portos da Europa e da Ásia em relação a outros portos do Brasil. Na perspectiva futura, Marinho observa que o governo do Maranhão trabalha para viabilizar uma zona de processamento de exportação (ZPE), o que é considerado importante para atração de empresas e para projetos estruturantes que trarão novas cargas de projeto para a região. A expectativa é que a ZPE seja implantada na retroárea do porto.
A movimentação de aerogeradores é uma das grandes responsáveis pelo aumento da movimentação de cargas de projeto em Pecém a cada ano. Magalhães diz que, em 2023, o porto teve uma boa movimentação de pás eólicas, além do embarque/desembarque e armazenagem destes equipamentos. Pecém ainda oferece serviços como giro de pás em zona alfandegada, visando uma adaptação às demandas de cada cliente.
Em 2023, a demanda por painéis fotovoltaicas aumentou bastante por conta dos novos parques solares, tanto no Ceará como em estados vizinhos como Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia, o que fez o número de projetos desse segmento crescer. Também foram destaques a siderúrgicas, com a movimentação de placas de aço, tarugos e fio máquina. “Logo em seguida, temos as pás eólicas mais aerogeradores e os projetos de energia solar com contêineres contendo placas fotovoltaicas e seus componentes”, detalha Magalhães.
O diretor comercial do complexo de Pecém cita o desembarque de contêineres com painéis fotovoltaicos vindos da China em navio Break Bulk. Ele considera que a operação foi desafiadora, tendo em vista que o cliente escolheu afretar um navio juntamente com outros clientes de carga solta para ter um frete dedicado que viria diretamente do país asiático para Pecém.
“Além desse, tivemos um grande volume de pás importadas ao mesmo tempo, o que nos demandou um grande espaço em pátio para a armazenagem. Também fomos desafiados pelo cliente com um pedido novo, no sentido de fazer o ´giro´da pá, algo que até então não era solicitado, e conseguimos atender com maestria ao longo dos meses dos projetos”, destaca Magalhães.
Em 2023, a carga solta foi responsável por mais de 20% da quantidade total movimentada pelo Porto do Pecém. “Temos um amplo histórico e expertise no atendimento a este tipo de cargas e estamos constantemente buscando nossa contínua melhoria e inovação, para que o mercado saiba que pode sempre contar com o Complexo do Pecém para atendimento aos diversos projetos, tanto nos segmento de energia como em outros”, afirma Magalhães.
A Gávea Logística identifica um aumento significativo em decorrência do aquecimento do setor O&G, especialmente com as campanhas de instalação FPSOs, campanhas de sísmica na Bacia de Santos e intensificação das atividades em águas ultraprofundas que naturalmente demandam equipamentos mais específicos, de dimensões características especiais, que extrapolam o padrão.
Na avaliação da Gávea, há uma clara tendência de se buscar serviços logísticos integrados. A explicação é que, pelas características únicam de cada carga, é natural que a logística de transporte e nacionalização demandem maior complexidade e a plena integração entre as etapas da cadeia de suprimentos é crucial. Por essa razão, é dada a preferência pela contratação integral dos serviços logísticos, no conceito one-stop-shop, do, frente de recebimento ao desembaraço no Brasil, se estendendo à logística interna de recebimento, engenharia de içamentos, transporte rodoviário e armazenagem.
A Gávea também nota que algumas empresas apostam no Brasil como um site de desenvolvimento, fabricação e beneficiamento de equipamentos que se destinam a campanhas offshore em outros países, como Guiana, Suriname e nos vizinhos da América do Sul, o que demanda diretamente o setor logístico brasileiro. Para a empresa, em muitos setores a recuperação já trabalha com a perspectativa de superocupação de ativos logísticos, por exemplo, incluindo embarcações de apoio, bases logísticas, setor aéreo, especialmente em pessoal qualificado.
“Diferentemente dos tempos pré-crise, até 2014, hoje o que se vê é uma preocupação legítima das operadoras em compartilhamento de recursos, o que também pode ser influência da perspectiva ESG (boas práticas de governaça e socioambientais), por uma série de motivos”, avalia a empresa. Pelo lado dos provedores de ativos e serviços, a leitura da Gávea é que há uma reticência em se investir em novas unidades como antes era comum, levando em consideração a experiência de descontinuidade de contratos.
Cargas de projeto chegam a 40% da receita da Gávea, incluindo engenharia e movimentação. Os segmentos que têm demandado mais operações de movimentação de cargas de projeto em 2023 para a empresa são infraestrutura; sistemas de ancoragem; cabotagem de cargas pesadas (heavy lift), como bobinas e carretéis; além da considerar também o advento do setor eólico, com a implementação de parques eólicos, que demanda recursos logísticos de transporte e armazenamento muito específicos”, acrescenta a empresa.
Fonte: Com informações do site portosenavios.com.br, matéria publicada 22 de dezembro de 2023.