Novos rumos para STS-10 não atrapalham investimentos, afirmam Tecons

APS destacou que está atenta à curva de crescimento da movimentação de contêineres em Santos. Consultor vê tendência de que complexo portuário seja demandado por capacidade adicional e vivencie aumento do volume de transbordos

A mudança de rumos do governo federal quanto ao projeto de um novo terminal de contêineres em Santos (STS-10) não atrapalha os planos de investimentos dos três principais terminais especializados do porto. A modelagem da concessão da área está em revisão pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), que desistiu da licitação que vinha sendo tocada na gestão anterior. A Autoridade Portuária de Santos (APS) informou que apoia a pasta no processo de remodelagem e que essa área, dedicada à movimentação de contêineres, é um dos objetos de expansão portuária presentes em seu planejamento estratégico.

A APS frisou que está atenta à curva de crescimento da movimentação de contêineres e destacou, dentre outras previsões de investimentos, a recente prorrogação do arrendamento da área da BTP por mais 20 anos. O contrato tinha prazo original de vencimento em janeiro de 2027. Com a prorrogação, está previsto o adensamento de área em 23,4 mil metros quadrados (m²) e a obrigatoriedade de investimentos por parte da arrendatária.

A renovação do contrato de arrendamento da BTP por mais 20 anos, anunciada em dezembro de 2023, prevê como contrapartida o investimento de R$ 1,9 bilhão, em valores atualizados, no terminal de contêineres nos próximos anos, podendo chegar a R$ 2,5 bilhões no total. A prioridade da companhia será aumentar a capacidade operacional do terminal em 40%. Com o incremento de capacidade, a movimentação do terminal pode chegar à marca de 2,1 milhões de TEUs/ano.

Procurada pela Portos e Navios, a BTP informou que acompanha de perto todos os projetos e ideias que estão sendo traçados, buscando o crescimento e a competitividade do maior porto do hemisfério sul. A operadora considera fundamental o aumento de capacidade no Porto de Santos, que passa pelo aprimoramento da infraestrutura portuária, com dragagem do canal de acesso para profundidade mínima de 17 metros. “Essa obra é essencial para permitir o acesso de navios maiores e mais modernos ao porto. Além disso, rodovias e ferrovias não devem ficar de fora do planejamento da autoridade portuária para que Santos alcance seu potencial”, destacou a BTP, em nota.

De acordo com a APS, a justificativa para a revisão do arrendamento da área STS-10 é a transferência prevista do terminal de cruzeiros para o centro de Santos, bem como a necessidade de um cais público sem prioridade de atracação. Além disso, parte da área antes prevista é composta pelo atual terminal Ecoporto, cuja prorrogação contratual está em estudo, com possível adensamento.

O contrato do terminal Ecoporto terminaria no dia 11 de junho passado, mas a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) permitiu que, expirado o prazo contratual sem que a licitação para o arrendamento tenha sido ultimada, a APS ficasse autorizada a firmar novos instrumentos contratuais, nos mesmos moldes — desde que mantidas as condições de exploração e operacionalidade. A APS informou que prorrogou temporariamente o arrendamento por seis meses e depois renovou, por mais seis meses, com a finalidade de garantir os empregos e manter a capacidade atual de movimentação do porto.

A autoridade portuária afirma que, com estas iniciativas e também com a Santos Brasil ampliando seu cais em mais de 220 metros e a capacidade para 2,4 milhões de TEU/ano, além da DP World investindo cerca de R$ 200 milhões para expansão do seu cais em 200 metros e ampliando a capacidade do terminal em mais 200 mil TEU/ano, o Porto de Santos mantém a capacidade de movimentar contêineres, enquanto planeja novas instalações.

A Santos Brasil avalia que a expansão dos terminais existentes permitirá o aumento do transbordo em Santos e será importante para o futuro do porto. O diretor-presidente da Santos Brasil, Antonio Carlos Sepúlveda, acredita que essa opção está alinhada com a demanda da logística nacional e afirma que a empresa está pronta para participar desse projeto.

A operadora está expandindo a capacidade do terminal para 3 milhões de TEUs até 2031, com investimentos previstos de R$ 2,6 bilhões, em valores atualizados. O aporte é uma contrapartida assumida na renovação antecipada do arrendamento do Tecon Santos. “A Santos Brasil está à disposição da autoridade portuária para colaborar com os projetos para o desenvolvimento do setor de contêineres no Porto de Santos e contribuir ainda mais para o crescimento de sua capacidade”, garantiu Sepúlveda.

As obras de expansão de capacidade da DP World em Santos começaram em março de 2023. O cais será ampliado em mais 190 metros até o final de 2024, chegando a 1.290 metros de extensão quando concluída a expansão. As obras garantirão aumento da capacidade de movimentação do terminal, de 1,2 milhão de TEUs para 1,4 milhões de TEUs/ano em 2024, podendo chegar a 2 milhões de TEUs de capacidade nos próximos cinco a 10 anos.

A operadora investirá R$ 200 milhões para expandir e modernizar as instalações para movimentação de contêineres. “De nossa parte, não há nenhum tipo de mudança em nosso planejamento. A DP World segue com seu plano de investimentos visando oportunidades que garantam a sua trajetória operacional crescente, e que tornem o Porto de Santos mais eficiente e competitivo”, disse o CEO da DPW no Brasil, Fabio Siccherino.

Com a possibilidade de que a área que seria destinada ao STS-10 seja fatiada, a fim de renovar o Ecoporto, os três principais Tecons, que são considerados médios no contexto mundial, serão mantidos e devem oferecer uma capacidade total de aproximadamente 7 milhões de TEUs nos próximos anos.

O sócio da Solve Shipping, Leandro Barreto, reiterou a avaliação da consultoria de que é preferível que Santos tenha 3 terminais fortes e com capacidade maior que a atual a ficar com 4 ‘medianos’, inferiores a 3 milhões de TEUs de capacidade nominal cada. “Na nossa visão, fatiar da forma como vem sendo dito, não seria o ideal. Principalmente, em função dos navios em construção. Para operar navios de maior porte, o ideal seria ter terminais maiores”, analisou Barreto.

As encomendas de navios sinalizam para capacidades de 13 mil TEUs a 15 mil TEUs, o que demanda terminais maiores e reduz as opções de atracação em relação aos portos escalados atualmente. A tendência é que Santos seja demandado por uma capacidade adicional e vivencie um aumento do volume de transbordos. Caso contrário, podem ocorrer ‘picos’ e ‘vales’ nas operações que não são vistas como saudáveis para terminais de porte médio.

Para comportar o aumento dos transbordos e da quantidade de movimentos, a área de giro na frente dos terminais e o canal de acesso precisarão estar aptos para 16 metros, num primeiro momento. “Apesar de a carga cativa na hinterlândia de Santos não dobrar de volume, é possível acreditar que o volume de transbordo possa duplicar ou triplicar do dia para noite quando navios grandes fizerem somente duas a três escalas no Brasil e forem embora”, apontou Barreto.

O consultor observa que terminais portuários em todo o mundo precisam cada vez mais operar dentro da margem de segurança defendida pela OCDE, de até 65% de utilização de berço, para que tenham alguma ‘gordura’ para receber navios fora de janela. “Está virando o ‘novo normal’ — navios todos fora de schedulle (janela de agendamento) por conta de pandemia, problemas no Mar Vermelho e eventos climáticos no norte e no sul fizeram navios cancelarem vários portos”, analisou Barreto.

O Porto de Santos movimenta atualmente cerca de 5 milhões de TEUs e, com os investimentos previstos pela Santos Brasil e demais terminais, a capacidade do porto deverá chegar a 6,5 milhões de TEUs nos próximos cinco anos. Nesse cenário, o Tecon Santos responderá por 3 milhões. Para Sepúlveda, isso mostra uma situação relativamente confortável e significa que o porto está equacionado até 2033.

O executivo analisa que, tanto o Porto de Santos quanto a Santos Brasil terminaram o ano de 2023 com volumes menores que no ano anterior. Para 2024, a expectativa é de crescimento, mas os volumes ainda devem ficar menores do que os de 2021. “Fechamos 2023 com uma movimentação de cerca de 2 milhões de TEUs, para uma capacidade instalada de 2,4 milhões de TEUs.

Este ano, a empresa prevê investimentos entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões no terminal que permitirão aumentar a capacidade dos atuais 2,4 milhões de TEUs para 2,6 milhões de TEUs até o final de 2025. “Nossa estratégia é ter sempre capacidade extra de cerca de 200 mil TEUs a 300 mil TEUs/ano para que possamos atender o crescimento da demanda e os picos de sazonalidade provocados por extra calls, que foi o que já aconteceu no ano passado e permitiu que na Santos Brasil operássemos sem filas”, explicou Sepúlveda.

A DP World ressaltou que analisa continuamente novas oportunidades de expansão no país, desde que haja um ambiente favorável e atrativo para investimentos em infraestrutura, além de segurança jurídica e estabilidade regulatória. “Precisamos de um ambiente favorável e atrativo para investimentos em infraestrutura para que possamos seguir investindo em tecnologia, aumentando a eficiência e a competitividade do Porto de Santos e, como consequência, contribuindo para uma maior participação do Brasil no comércio global”, salientou Siccherino.

A Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra) considera que a descontinuação do STS-10 é uma decisão correta, pois a demanda para a movimentação de contêineres no Porto de Santos será bem atendida com as anunciadas obras de ampliação da Santos Brasil, da DPW, da BTP e da renovação do contrato do Ecoporto. Para a associação, essa decisão evita a chance de se aumentar as discussões concorrenciais na operação de contêineres no porto.

Fonte: Com informações do site portosenavios.com.br, matéria publicada 02 de fevereiro de 2024.